Uma importante atividade que está em constante crescimento mesmo diante de todos os desafios enfrentados no último ano
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de leite, atrás apenas dos Estados Unidos e
da Índia, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura (FAO, 2019). Para alcançar essa posição, a produção brasileira cresceu
substancialmente nas últimas décadas. Em 1997, o Brasil produzia 18,7 bilhões de litros
de leite. A partir daí a produção cresceu, em média, 4% ao ano atingindo 35,124 bilhões
de litros em 2014. Durante três anos, a produção nacional teve um baixo desempenho,
se recompondo somente em 2018, quando a produção atingiu a marca de 33,840 bilhões
de litros. Apesar da produção continuar concentrada nas regiões Sudeste e Sul do Brasil,
que produzem 68% do leite brasileiro, a produção se fortaleceu no Sul, enquanto o
Sudeste foi perdendo espaço. Nas demais regiões, com aumento da produção
nordestina, fez com que a região Nordeste passasse a ocupar a terceira posição nacional,
seguida do Centro-Oeste e Norte. Em 2018, as regiões Sul, Sudeste, Nordeste, Centro-
Oeste e Norte produziram, respectivamente: 11,588; 11,466; 4,384; 4,108 e 2,294
bilhões de litros de leite (Fonte: IBGE (Pesquisa Pecuária Municipal)).
De acordo com o Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo, “estima-se que um terço do leite que é produzido no Brasil seja utilizado como ingrediente básico para vários produtos que vão desde alimentos até higiene pessoal, cosméticos e medicamentos. Os dois terços que sobram são consumidos na forma de leite fluido ou derivados como queijos e iogurtes (ZOOCAL, 2017). O consumo dos dois últimos está relacionado com a renda do consumidor. Desde o Plano Real, pode-se observar que quando há melhora de renda ocorre um crescimento do consumo de iogurtes e com crescimento da economia, os queijos também passaram a ter mais expressão”.
Contudo, há dois pontos importantes a serem avaliados no momento atual: os preços dos lácteos que continuam recuando no mercado atacadista e o custo de produção que mantêm trajetória de alta nesse início de ano.
O CILeite (Centro de Inteligência do Leite) nos indica que: “os preços dos lácteos no mercado atacadista continuam em queda, sobretudo daqueles produtos tidos como
commodities como o queijo muçarela, o leite UHT e o leite em pó. A margem industrial
nestes segmentos recuou de maneira acentuada de dezembro para fevereiro. A melhor
oferta de leite neste período, somada a uma pressão de vendas na indústria para reduzir
estoques, têm provocado recuos nos preços. As importações de queijo muçarela e de
leite em pó também pressionam os preços para baixo. Pelo lado da demanda, o fim do
Auxílio Emergencial retirou uma parte do consumo que estava voltado para estes produtos. Além disso, as negociações seguem difíceis com os varejistas, que buscam uma recuperação de margem de comercialização.”
Após uma pesquisa realizada pelo Cepea/Esalq para compor o Boletim do Leite, a
perspectiva para 2021 é que haja uma disputa acirrada por matéria prima por esta permanecer limitada. O cenário desfavorável se dá por dois importantes fatores: o clima
desfavorável do ano passado que prejudicaram as pastagens e o aumento contínuo nos
custos de produção, seja os valores dos componentes de ração, mão de obra e outros
fatores que interferem diretamente na produção.
O valor do leite pago ao produtor, em fevereiro deste ano de acordo com o Cepea/Esalq
(R$/litro) – líquido, foi em média para o Brasil, R$1,9880/l, sendo o Estado de Goiás, o que teve maior média de R$2,0268/l, e o Mato Grosso do Sul, com a menor média de R$ 1,6513/l. É possível perceber a queda nos valores quando há comparação com o mês
de dezembro do ano passado, onde os produtores receberam, na média para o Brasil, R$
2,1262/l. Já os preços médios mensais no varejo, calculado pelo IEA no Estado de São
Paulo, no primeiro mês de 2021 sobre os produtos lácteos contabilizou: R$4,00/l de leite longa vida, R$43,90/kg de queijo tipo muçarela, R$5,56/365g de leite condensado e R$14,56/400g de leite em pó. Os valores relatados indicam a dificuldade que o povo brasileiro está enfrentando, seja ele produtor, seja ele consumidor. A pandemia tirou de
muitos, o emprego e a estabilidade financeira – que algumas pessoas, mesmo trabalhando, nunca conseguiram – e ainda com o fim do Auxilio Emergencial em dezembro de 2020, fez com que muitas famílias tivessem que decidir o que colocar na mesa, considerando que não foi somente o preço do leite e derivados que aumentou, praticamente todos os itens da cesta básica encareceram por diversos motivos; e para o produtor, o custo de produção tem sido um desafio, considerando que os preços do milho e do farelo de soja devem se manter altos neste ano, sustentados pelas aquecidas demandas interna e externa por esses grãos. Com o exposto, o poder de compra de pecuaristas frente a esses insumos de alimentação pode cair e dificultar possíveis incrementos na produção.
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